As leis da Natureza
As leis da Natureza e da História
completam-se e afirmam na sua unidade imponente. Uma lei circular preside à
evolução dos seres e das coisas, rege a marcha dos séculos e das Humanidades.
Cada destino gravita num círculo imenso, cada vida descreve uma órbita. Toda a
ascensão humana divide-se em ciclos, em espirais que se vão amplificando, de
modo a tomar um sentido cada vez mais universal.
Assim como a Natureza se renova sem
cessar em suas ressurreições, desde as metamorfoses dos insetos até
o nascimento e a morte dos mundos, assim também as coletividades humanas
nascem, desenvolvem-se e morrem nas suas formas sucessivas; mas, não morrem
senão para renascer e crescer em perfeições, em instituições, artes e ciências,
cultas e doutrinas.
Nas horas de crise e desvario, surgem
enviados que vêm restabelecer as verdades obscurecidas e encaminhar a
Humanidade. E, não obstante a emigração das melhores almas humanas para as
esferas superiores, as civilizações terrestres vão-se regenerando e as
sociedades evolvem. A despeito dos males inerentes ao nosso Planeta, a despeito
das múltiplas necessidades que nos oprimem, o testemunho dos séculos diz-nos
que, em sua ascensão secular, as inteligências apuram-se, os corações tornam-se
mais sensíveis, a Humanidade, no seu conjunto, sobe devagar; a contar de hoje
ela aspira à paz na solidariedade.
Em cada nascimento volve o indivíduo à
massa; a alma, reencarnando,toma nova máscara; as respectivas personalidades
anteriores apagam-se temporariamente. Reconhecem-se, entretanto, através dos
séculos, certas grandes figuras do passado; torna-se a encontrar Irisina no
Cristo e, em ordem menos elevada, Virgílio em Lamartine, Vercingetórico(1) em Desai 2), César em Napoleão.
Em certa mendiga, de feições altivas,
de olhar imperioso, acocorada sobre uma esterqueira às portas de Roma, coberta
de úlceras e estendendo a mão aos transeuntes, poder-se-ia, segundo as
indicações dos Espíritos, no século passado, reconhecer Messalina.(3)
Quantas outras almas culpadas vivem em
roda de nós escondidas em corpos disformes, expostas a males que elas, por si
mesmas, prepararam, e, de alguma sorte, moldaram com seus pensamentos, com seus
atos de outrora! O Dr. Pascal exprime-se assim a este respeito:
“O estudo das vidas anteriores de certos homens, particularmente feridos, revelou estranhos segredos. Aqui, uma traição, que causa uma carnificina, é punida, passados séculos, com uma vida dolorosa desde a infância e com uma enfermidade que traz a marca da sua origem - a mudez: os lábios que traíram já não podem falar; ali, um inquisidor torna à encarnação, com um corpo doente desde a meninice, num meio familiar eminentemente hostil e com intuições nítidas da crueldade passada; os sofrimentos físicos e morais mais agudos acossam-no sem afrouxar”.
Esses casos são mais numerosos do que
se supõe; cumpre ver neles a aplicação de uma regra inflexível. Todos os nossos
atos, consoante sua natureza, traduzem-se por um acréscimo ou diminuição de
liberdade; daí, para os culpados, o renascimento em invólucros miseráveis,
prisões da alma, imagens e repercussão de seu passado.
Nem os problemas da vida individual,
nem os da vida social se explicam sem a lei dos renascimentos; todo o mistério do ser se
resume nela! É dela que nosso passado recebe sua luz e o futuro sua grandeza;
nossa personalidade amplifica-se inesperadamente. Compreendemos que não é de
ontem que data o nosso aparecimento no Universo, como ainda é crença de muitos;
mas, ao inverso, nosso ponto de origem, nosso primeiro nascimento afunda-se na
escuridão dos tempos. Sentimos que mil laços, tecidos lentamente através dos
séculos, prendem-nos à Humanidade. É nossa a sua história; havemos viajado com
ela no oceano das idades, afrontando os mesmos perigos, sofrendo os mesmos
reveses. O esquecimento dessas coisas é apenas temporário; dia virá em que um
mundo completo de recordações reavivar-se-á em nós. O passado, o futuro e toda
a História tomarão a nossos olhos um novo aspecto, um interesse profundo.
Aumentará nossa admiração à vista de tão magníficos destinos. As leis divinas
parecer-nos-ão maiores, mais sublimes, e a própria vida tornar-se-á bela e
desejável apesar de suas provas, de seus males! (Léon Denis - O Problema do
Ser, do Destino e da Dor).
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